segunda-feira, outubro 18, 2010

texto inútil de palavra esforçada que é o que é

Vale mais a ponta de um ponteiro que a longa cadência dos anos. O momento de ouro, que depende da cadeira, de mim ou de ti, do cigarro, do tique que se desvenda, do som da gota que cai em jeito de tortura ou da música, o momento de ouro é cada um deles. É de se agarrar. À senhora da paragem, vestida em seu pijama branco de insanidade, falta o registo das horas, dos fragmentos, do que respira cá fora, sentada comigo à espera do eléctrico que só passa para mim, que eu apanho, que para ela não, não há eléctrico. Talvez esteja a aproveitar, assim, sentada e alisando com as mãos o pijama branco, mas não, fala, cospe a lenga lenga baloiçante, e não a vejo respirar. Quando o som se corta, a boca mexe. Está assustada.
Vá, tento pôr-me na posição que defendo, mais difícil é o fazer do que o dizer, o dizer é fácil, é corriqueiro, o dizer é um cagalhão escorrido - só não o é realmente porque o cagalhão espreita do cu e o dizer da boca. Vá, tento pôr-me na posição que defendo. Mas não estou a babar cada palavra que digito, nem a sentir a pulsação de cada vírgula. Escrevo sem prazer, como se precisasse, como se faltasse. Mas era melhor que não. Melhor que isto era a mão, o chá e o papel.
Leio-me e, porque sim, ponho aqui este ponto.


Assinado por Mim, mais um bocadinho.

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