segunda-feira, maio 23, 2011

cadernos de konstantin gavrílich IV

Lago que adormece o Diabo.
O Diabo és tu, Nina, não és?
Porque não olhas para mim, já não.
Esses olhinhos inchados de chorar, ó Diabo.
Um Diabo que chora, que é uma gaivota.
E este lago que o atrai, que o adormece, que te.
Não há ninguém, é só um ulmeiro que a noite faz escuro.
No escuro, só o brilho dos teus olhos, vermelhos, e o cheiro do enxofre.

K.G. Tréplev

domingo, maio 15, 2011

morrer como um homem

Quando o cabelo cresceu o suficiente para que o fizesse, Quim deu com ele um nó em volta da pila e apertou, apertou muito.
Decidiu que aquele contacto era para manter, então formalizou-o: uma rasta, a pila envolvida por uma rasta, como que peluda.
Durante os primeiros tempos a rasta obrigava Quim a curvar-se, mas entretanto o cabelo cresceu, enfraqueceu e ele pôde respirar de alívio.
Passado certo tempo, fez uma trança, que funcionava como alavanca para o orgasmo, que difícil era limpar uma pila cabeluda.
As coisas já se confundiam.

Está na hora de o Sr. Quim cortar o cabelo! - insistiu alguém.

Quim acedeu e de ora em diante é um homem sem pila.
Se é que se pode chamar a isso um homem.

sexta-feira, maio 13, 2011

cadernos de konstantin gravrílich III

Fodei-vos bem que eu
Olho-vos e fricciono
Rente ao nervo a
Máquina de
Amar e fazer filhos!

K. G. Tréplev

cadernos de konstantin gravrílich II

Galgo os trilhos da poeira em que os pardais se sacodem,
Assim o gesto de matar uma gaivota é
Isso apenas, o de quem mata uma gaivota e não a
Viperina moça que corre, vestida de branco, banhada em
Óleo que escorre e não se agarra à pele, que
Tropeça como eu nas pedras imóveis,
Antigas.

K. G. Tréplev