sexta-feira, maio 21, 2010

NIB

Faltava ainda uma escadaria de centenas, uma corda que alcançava o promontório, um túnel para que nele rastejasse e depois um escorrega.
Demorou menos tempo do que pensava. Quando pisou a pavimentação foleira do átrio de entrada, sentiu-se cheio de uma tranquilidade artificial, forçada por essa consciência que esquecia a estranheza do lugar e então a do seu corpo no lugar. Portanto, estava calmo, que bom que era.
E apareceu um senhor com idade para ser seu pai, ou talvez avô, não soube. Disse-lhe olá, não o visitante ao anfitrião mas o anfitrião ao visitante, e depois sim, o visitante respondeu-lhe com outro olá. E ali ficaram, naquele impasse, sem saber do que falar. Não fazia sentido perguntar por novidades.
O outro puxou de um cigarro. Este pediu-lhe um, começava a ficar nervoso. O pior já tinha passado, toda a caminhada, e agora esta calma que lhe era imposta cristalizava o suor cuspido das axilas, das coxas, da cabeça, frutos da terrível viagem. Fumaram em silêncio.
És o próximo, disse o anfitrião ao visitante, disseram-mo.
O que é que eu tenho que fazer?
Preciso do teu bê í, cartão de contribuinte, comprovativo do NIB e três fotografias de rosto.
Trouxe tudo.
Então entra. Entrega tudo à Paula da recepção.
A calma desapareceu. Não tinha o comprovativo do nibe. E então pensou que, com sorte, a Paula da recepção era mais simpática que o senhor do portão e talvez o deixasse trazê-lo na segunda-feira. Acontece que não era, e o visitante, chamado Gustavo, deu meia dúzia de passadas e teve uma morte miserável.

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