terça-feira, setembro 27, 2011

rendez-vous

A agente imobiliária era uma mulher baixa e entusiasmada. Conhecia-se mal, mas gostava do pouco que conhecia sobre si, em especial do seu trabalho, que se caracterizava completamente em desenvolver meios de aplicação dos princípios gerais da insistência.

Pierre Vert era o nome do porteiro dum prédio erguido há que tempos naquela cidade. Pierre não cedia com facilidade, não porque a isso fosse obrigado, mas porque entendia que o poder sobre as chaves, as entradas e as saídas, exigia de si tirania, e tirano, ainda que pequeno, era o que ele era.

Quando no prédio guardado por Pierre entra a agente imobiliária, é porque há uma casa que tem que ser visitada, comprada, mas para isso aberta e então temos a persistente agente a querer que Pierre abra a porta, a publique, a liberte - e Pierre fincando o seu tirano pé, não deixo coisa nenhuma.

A agente imobiliária desistiu hoje mesmo daquela casa.
Pierre Vert pousou hoje mesmo as chaves e não mais saberá delas.

A desistência é uma revelação. / Clarice Lispector

1 comentário:

  1. Este espaço começava a ganhar teias. É bom ver-te aqui rapaz.

    Teremos continuação desta história?

    ResponderEliminar