quarta-feira, agosto 10, 2011

lição de tango

1. Victor e Melissa aproximam-se, e para tal executam diagonais obscenas.
Quando se agarram, não se olham. Depois, então, sim. Os olhos dela como poços onde os dele se precipitam para de lá trazer água.
Sem descanso em Bratislava, agarram-se e soltam-se para se apropriarem um do outro outra vez. A agilidade é líquida e escorre do pescoço dela para os ombros dele.
O suor é digital.

2. Victor e Melissa conversam para chegarem a algum lado onde os corpos não chegaram. Mas o piano sobrepõe-se às palavras e são chamados de novo à pista, sem que haja tempo para dois dedos e duas pedras de gelo.

3. Victor e Melissa brilham, ela deixa cair o tronco e os cabelos para trás: ele segura-a pela cintura. Ela respira e sobe para ele, há uma pausa. E as diagonais são de novo desenhadas, porque o ritmo encontra a sua origem. Até à exaustão, os corpos se torcem e escaldam e não se ouve lamento nenhum.

Mas depois separam-se e ficam apenas os riscos dourados.
Alguém aplaude.

Sem comentários:

Enviar um comentário