segunda-feira, setembro 20, 2010

romance & cigarros

Passou Bem era um homem de grande aparato e sorriso. Em toda a sua estrutura dentária, apenas dois modelos eram amarelos, por causa dos cigarros que chupava de surra, apontando o cano sempre aos mesmos dois dentes, como alguém lhe dissera um dia para fazer.
Passou Bem cumprimentou Dona Mãe Senhora Mulher e deu conta do amor dela por si. Como se tornava feia uma mulher apaixonada. Quis gozar com ela e sorriu. Ela sorriu de volta e mostrou seu piano velho e amarelo por entre os lábios finos e duros, brochistas sem experiência. Queria beijá-lo. Passou Bem pensou que os dentes só estavam amarelos por ela estar apaixonada, e fez-lhe sentido no miolo que ele estivesse em parte apaixonado por alguém.
Mas não se lembrava de quem pudesse ser. Quando no dia que se seguiu a esse foi cumprimentar o Reverendo Lambão, este ouviu a sua confissão, e colocou mão e ternura sobre a perna de Passou Bem, dizendo-lhe que sabia por quem ele estava apaixonado. Passou Bem cuspiu sobre a mão do Reverendo mas queria saber por quem estava apaixonado, e limpou resignado o que havia ali de baba sua. O Reverendo pôs-se com exigências e fez jus ao apelido, limpando depois o que havia ali de semente alheia. Passou Bem sentiu-se inclinado a agradecer, afinal não soubera assim tão mal.
Tomou conhecimento de ser Passou Bem o objecto do amor de Passou Bem. Disse assim: "Tenho que gostar mais de mim." E dali em diante fumou mais, muito mais, e amarelou muitos mais dentes por já não se importar com os dentes a que dirijia os cigarros; abriu tanto os pulmões ao amor-próprio que um dia caiu redondo no chão, e estava morto por gostar tanto de si.

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