quarta-feira, agosto 11, 2010

alfredo, o coveiro [parte três de três]

Coveiro e velha entendidos estavam, frente a campa de homem desconhecido, oferecendo ao pobre uma visão do inferno, oferecendo à árvore calor humano em investidas brutas, oferecendo a si mesmos a carne um do outro, sabia mal, mas e então os meninos de África.
Alfredo experimentou pela primeira vez o toque de carne viva, e desertaram da sua memória as recordações obscuras de passageiros que ele fodera, e que por tesão mantida de uma vida para outra, o haviam fodido a ele, coveiro, carrasco, vítima.
A velha, podre e maculada, olhou para ele nos olhos pequeninos. E olhos de coveiro, habituados em ver morte e não vida, responderam-lhe. Por mais estragada que estivesse, estranhou ele alguma coisa, e foi-lhe dito por alguém, que era ele próprio, pois quem sozinho está acaba por se fazer companhia, que era imperioso apagar aquele resto de vida, e temos ali uma cova com duas carcaças, a velha que se chamava Antónia e seu marido Heitor, mais conhecido por Pitosga.
A semente sobre o corpo de Gustavo secara, o coveiro correu a cobri-lo de terra, e foi como que uma despedida.

1 comentário:

  1. Que estranho ler isto e saber em quem foi inspirada a personagem principal, deu uma bela historia

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