quinta-feira, abril 28, 2011

cadernos de konstantin gravrílich I

O homem estava entregue à solidão e à vertigem. Só havio riacho, não havia lago. Não havia família nem visitas, só havia propriedade. Não havia um estrado nem uma actriz, mas havia um mundo. Não havia rapé, bebeu apenas vinho.
Então o homem sentou-se a escrever e não saltou, morreu doutra maneira.
Onde é que posso encontrar o Diabo?

K. G. Tréplev

terça-feira, abril 05, 2011

três mãos de bronze

O louco senta-se e bebe, mas é como sempre bebesse, pois não diz coisa com coisa.
O louco conta histórias, mas mais valia não fazer nem dizer nada, porque aquelas são invenção e o louco é uma fraude. Se é uma fraude, não é louco nenhum. Ainda assim, é loucura a busca que faz pelo conhecimento de si mesmo.
O louco não sabe o que anda aqui a fazer, e não merece que ninguém morra por ele, como a arte.

os que caminham para a estática

Os visados deslocam-se em frente, apesar dos pesos que transportam e do próprio desequilíbro das massas corporais, é uma instabilidade que só ameaça e não chega a causar estragos. Os pesos que transportam são necessários ou prescindíveis, úteis ou decorativos e são todos pilares de uma causa que é uma casa, que é uma tentativa apenas.
Andam em frente, atravessando corredores altos, expositivos e impositivos, onde empilhados estão os produtos, que vão entupir o vazio daquelas alminhas.
Eles caminham para uma casa cheia, se não entulhada, caminham sob a alçada de créditos e de favores, seduzidos pela frieza olímpica, nórdica, gostosa, porque de bom gosto, mas não estão satisfeitos.
Depois disso tudo, queres o quê.